sábado, 13 de outubro de 2018

K2 Park

Terça-feira, 29 de dezembro de 2015



No entorno por uma questão de sorte ou destino existem dezenas de praças, porém somente em uma delas é possível reunir a turma do K2 sem criar maiores problemas com a vizinhança. Fui apresentado ao lugar em 1994  por uma grupo  que me precedeu. Entre idas e vindas interrompidas por namoradas, empregos e viagens pude ver colegas alcançarem os extremos da luz e da escuridão.  Alguns morreram pelo caminho. Outros fizeram filhos. Tem aqueles que estão hoje exatamente onde pretendiam estar. Alguns aprisionados, outros de bem longe mandam lembranças em fotos coloridas com os tons mais bonitos da vida.

Vale ressaltar a importância das praças públicas como pontes para amizades, reconhecimentos e trocas de informações. È convivendo que se aprende a viver. O jovem que pode desfrutar de uma praça tem a possibilidade de se deparar com diferentes pontos de vista. Histórias e caminhos diferentes que a vida apresenta à cada um. Aprende a respeitar e conviver com as diferenças. Ainda que antes disso algumas brigas  venham a acontecer.

Mais vale um amigo na praça que um amigo no banco!

Acontece que nem tudo é para sempre. Manaus concentra uma população de mais de dois milhões de habitantes. A vida é curta e o mundo é muito grande. Quero registrar minhas memórias de hoje  como forma de carinho. Dedico à  todos aqueles anjos caídos que se reúnem na mesma roda com pobres diabos. Aos ricos e aos pobres. Aos cultos e iletrados. Também para os advogados e os flanelinhas que entre quatro linhas esquecem as diferenças e jogam uma pelada todos os dias. Eu to indo embora. Meu tempo de k2 acabou.

Lembro de tantas histórias. Momentos de alegria. A euforia das primeiras descobertas por aqueles   inquietos que encontram nas praças os únicos lugares livres de rótulos, regras ou hierarquia. O que não significa uma completa putaria! Os mais velhos que tiraram lições de convívio e da vida até deixam a corda esticar. Mas quando o jovem anarquiza  recebe uma rasteira. Do chão ele levanta e assim vai aprendendo. Foi assim comigo também.

Foi nos  últimos anos que passei a frequentar mais assiduamente a praça batizada como k2 pela minha geração. Sem namorada, desempregado e desanimado por dias longos e calorentos só consegui relaxar  por ali nos  finais de tarde.  Algumas conversas valiosas fazem valer o tédio de dez conversas vazias. Isso porque muitas vezes tudo o que você quer é ficar calado. Sentar por ali e fumar uns baseados antes de voltar para o “mundo”.

Nesse ano (2015) o lugar passou a ser frequentado por dezenas de jovens oriundos de outros bairros. As diferenças surgem logo de cara. Aquelas que por hora não podem ser conciliadas se resolvem com a distância. A praça é grande, entre um canto e outro pode haver até 50 metros separando os divergentes.

Esse lance de bancar o mais velho, sendo ainda tão novo é bem complexo, todavia,  nunca fujo da raia e sempre trago uma palavra amiga. Conto umas histórias. Digo que uma  vida louca e rebelde sempre cobra um preço. Pode ser a confiança, a saúde do corpo  da mente. Sempre algo ou alguém virá cobrar as conseqüências  de suas escolhas. Àqueles que desejam ouvir, conto sobre tudo o que sei e aprendi sem nenhuma arrogância.

Há mais de 15 anos que a praça não recebe uma reforma. O lugar está completamente roto. As grades quebradas. Os balanços, escorregador e gangorra completamente abandonados. Posso dizer que hoje no k2 existem mais pessoas que desconheço do que aqueles que suponho conhecer. Muita gente que só busca refúgio e não traz sequer uma palavra para trocar. Olho para eles e penso que serão o “futuro” do k2. Acho que não porque a vida sempre cobra um preço e as novas gerações parecem não se importar com nada. A eles desejo que possam permanecer vivo e alcançar os 30 anos e assim por diante.

Só a mudança é para sempre. Ninguém mais acreditava que uma reforma poderia acontecer. Um dia chegamos ao local e  percebemos um contêiner posicionado bem ao lado da quadra de esporte. Ficamos especulando sobre o “Por quê?” daquele trambolho. Dias depois um imenso painel fora instalado nas grades do local. Com brasão da Prefeitura Municipal de Manaus o anúncio da reforma no valor de R$  116 mil.  Foi nesse mesmo dia que apareci com minha câmera e pedi que alguns deles pousassem para a foto. Queria registrar naquele instante a mudança. Nada é, tudo estar. Nada de saudades, apenas boas recordações!


- Feliz 2016 k2!!! 

Nenhum comentário: